Só 2% das estrelas Michelin pertencem a mulheres. E não há garantias do que se possa encontrar debaixo das calças.

No mundo inteiro, 98% das estrelas Michelin pertencem a chef’s homens. Cozinha não é lugar para meninas diz-se. Cá eu, não me vou deter em patranhas machistas, até porque estas revelam uma grande ambiguidade, pois para 99% do mundo macho o lugar das mulheres ou mães é na cozinha. Por isso, dizer que a cozinha não é para meninas até soa a uma coisa meio abichanada. A verdade, é que nunca percebi muito bem porque é que existem tão poucas mulheres super chef. Uns apontam maternidade, até certo ponto compreendo, mas não justifica. Outros apontam a abstração e criatividade superiores nos homens. Também compreendo, mas não justifica. As meninas eram e são criadas a pensar que o lugar delas é na cozinha e isso, quer se queira, quer não, é uma pressão. Pressão, que eu enquanto rapaz não tive. Foi comer, observar, sentir e cagar no fim. Por outro lado, este são contacto com ingredientes e cozinha devia proporcionar uma vantagem, que não se materializa no terreno. Do ponto de vista técnico, há e sempre houve um primor muito superior por parte de um homem na cozinha. Peço perdão, mas é verdade, todas as mulheres que vi na cozinha são umas batoteiras e aldrabonas. Mães, irmãs, amigas, namoradas, tias, primas. Ui....as tias.....oh senhor. Mas pior mesmo, é a minha mãe. Que horror. Lembro-me de dois pratos, mais nada. Uma salada de verão cheia de vinagre, com sardinhas. E um caril de camarão, tão picante, mas tão picante, que era só mesmo isso. E acabou a história culinária ó gastronómica lá de casa. Ainda bem que existem mulheres como a Nadia Santini, que no meio de 98% de barbudos, ostenta com orgulho 3 estrelas Michelin e desde 1996. São 16 anos com a pressão das 3 estrelas. Marco Pierre White, és um m-e-n-i-n-o. Dal Pescatore, na Lombardia, perto de Milão, está na família desde 1910, mas foi nos anos noventa que se começou a destacar, já pelas mãos de Nadia. O conceito é simples, até enternecedor, e é tão estupidamente Italiano que até dói. A sua sogra é que ainda faz a massa, e tudo é muito tradicional. Aliás, enquanto a sogra for viva, ela está condenada a que assim seja. O foco nos produtos frescos é enorme. Sejam o que eles plantam, sejam os que o marido António, procura nos mercados mais próximos. Se houvesse uma dica que posso deixar e que parece unir todos os restaurantes de topo é a frescura, a sublime qualidade de todas as matérias primas. Depois, em alguns casos, tal como se deve deixar trabalhar uma boa faca, não impondo nós o movimento, na cozinha de Nadia os ingredientes é que trabalham e a magia acontece. Por exemplo, cozer esparguete durante 1 minuto e meio, acabando a sua cozedura na base do molho de tomate. Se a massa absorve líquido, então para quê absorver água que não sabe nada? Bom, em Bolonha cozem tortelini em caldo. E daí para técnica do Risotto, é um pulo. Embrulha e começa tudo outra vez. A mim toca-me profundamente este ponto, porque detesto usar água na cozinha, não faz sentido. A não ser que seja água a qual damos sabor, via caldo, via chá, via infusão, etc agora só água, não. Vá umas gotas para “desadensar” um molho e com muito cuidado. Nadia, não quer mais, nem quer menos, quer passar amor em tudo o que faz, por isso, não recebe mais de 30 pessoas por noite. Há quem a considere a melhor Chef de pasta do mundo. A verdade é que ela é muito mais do que isso e já esteve, por duas vezes, nomeada para a melhor Chef feminina. Nunca ganhou. E ainda bem. Num mundo de homens, ser considerada a melhor Chef feminina é um pouco como ganhar o campeonato da segunda divisão. Ficam-lhe muito melhor as três estrelas num campeonato hardcore cheio de barbudos.

Comentários

  1. Há aqui uma questão de pureza, parece-me. Pela minha curta experiência, posso dizer-te que é preciso reunir condições muito específicas para que uma mulher possa ser chef numa cozinha. O percurso para ser chef e criar condições de voar "solo", significa que apenas cozinhará na sua cozinha, a nível pessoal, uma vez por semana devido ao horário, que é um horário mais próximo da revolução industrial e do século XIX (tipo Germinal, de Zola) que conheci. Parece-me que para uma chef, se não existir um lado afectivo colado ao estilo semi-monasterial/militar desta vida, então não serve. É que os afectos e a comida estão directamente ligados e um sem o outro desinteressa. (sheila)

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