Será Mario Batali o maior ítalo americano não italiano?

A resposta é muito menos confusa que a pergunta: provavelmente será. Isto se for um americano a responder. Se for um italiano dirá: vafanculo Mario! Digo isto porque, por exemplo, para Nadia Santini, a chef italiana com 3 estrelas Michelin, e uma das melhores do mundo a fazer pasta rotula-o de crápula, cretino, imbecil entre outros carinhos. O mesmo, ou muito pior dirá o Dario Cecchini da Antica Macelleria, que lhe ensinou todos os truques e cortes de carne possíveis. Pelo meio de tudo isto passou pela cozinha de Marco Pierre White, onde não durou muito tempo. Não acredito que tenham desperdiçado uma única pinga de amor entre os dois. Já para os Americanos é uma figura redonda, que anda de crocs (não sei se terá sido ele a instituir a moda, mas desconfio que sim), bem disposto, beberrão e fanfarrão e que cozinha bem como o demónio. Parte do seu élan vem do facto de ter sido figura de proa do canal Food Network. Daí a nascer o Babbo foi uma perninha de rã. Foi onde estive no meu périplo americano. Magnífico. O local tem uma energia doida, a energia de Mario. Estava apinhado e consegui reserva, para um dos restaurantes mais concorridos de Nova York, e que já teve uma estrela Michelin, sem saber ler, nem escrever. Já estive em muitos restaurantes com estrelas e posso avançar que este serviço está a roçar as 3 estrelas, com tudo o que tem de bom e com tudo o que tem de mau. Os maus foram muito bem disfarçados pelo nosso chef de sala, que devia ser modelo em part time, mas italiano a tempo inteiro. Tudo acontece sem sequer termos que mexer os olhos, a uma velocidade estonteante ao som rasgado dos grandes clássicos do rock. Só de me relembrar daquela noite, sinto a pulsação eléctrica do local. A cozinha a nível de prontidão e eficácia não fica atrás. É um negócio e Mario sabe que quanto mais depressa servir, mais depressa senta outros. Apesar de nós nunca sentirmos esta pressão. Quanto à comida, só posso dizer uma coisa, e que me perdoem os italianos acima mencionados e muitos que ficaram por mencionar: fuck you. Come-se bem para caralho no Babbo. Desde as melhores lulas que já comi na vida, a um panna cotta que fica no mesmo patamar, toda a comida estava divinal.. E na memória trouxe também as tais “2 minutes squid” que tentei reproduzir num jantar este fim-de-semana, mas tive que fazer com polvo, porque “no squid in Pacheco’s house!”. Mas essa é outra conversa. Portanto, eis que de lulas feitas em dois minutos, passamos a polvo feito em 60 minutos, sem deixar ferver. O polvo derrete-se na boca. À parte fiz um ragu clássico, com alho francês, aipo, cenoura e tomate. Finaliza colocando o polvo, alcaparras, azeitonas e chili triturado. Também já fiz com as lulas, nesse caso é adicionar e marcar o tais 2 minutos. Depois de passar dias a pensar neste prato do Babbo, fiz a minha modesta interpretação, correu bem. Mas o do Super Mario, inesquecível, mais preciso, mais vibrante, mais ácido, melhor ligação dos elementos, impecável. Mario, já que não podes entrar em Itália, fica a saber que em minha casa serás sempre bem vindo. Tu e as lulas. Menu do Babbo

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