Balanço final do 10 Fest: mais 3 quilos. De neurónios.
















Acabou o 10 Fest.
Acabou?
Até ao dia que me disserem e garatirem que não existirá uma próxima edição do 10 Fest só aí terá acabado.
Agora até lá, é um movimento perpétuo. 
O 10 Fest não são cerca de 600 pratos servidos em 10 dias. Nem se confina aos pratos ou menus que falharam, nem se resume aos que correram maravilhosamente bem, nem a dez dias com dez jantares incríveis. O 10 Fest é um festival gastromotivacional.

Quando se fala em festival a nossa mente arrasta-nos para 3 dias num pasto, a comer pó, para ouvir a nossa banda preferida, às 3 da manhã, tocar uma horinha, porque estão bêbados demais para mais. Dormir em tendas, comer arroz de salsicha e tomar banho no riacho ou num fio de água. 
Convenhamos, estes festivais são uma merda, excepto para adolescentes, para quem vale tudo para não ficar trancado em casa. E vale mesmo tudo.
Não, não é destes festivais estéreis que estou a falar.

Na minha vida de publicitário tive a sorte de já ter ido umas vezes a Cannes. Ao Festival de Cannes, o evento publicitário número 1 no mundo. Normalmente, na terceira semana de Junho a nata da publicidade reúne-se no Palácio dos festivais. E isto quer dizer uma coisa, ou melhor duas. Putas e vinho verde.
É este o estigma que um publicitário leva consigo para todo o lado. Isso e os chouriços de Arganil e o presunto de chaves, no caso dos portugueses.

Mas para além desta componente didática, o festival é uma mostra de trabalhos, em que alguns deles são premiados. Existem também todo o tipo de conferências, workshops e apresentações com os maiores gurus de comunicação do mundo.

Uma semana em Cannes e voltamos para casa possessos, tal é o fruir de ideias, conceitos e pessoas. As agências não são parvas. Mandam-nos para Cannes, muitas vezes a peso de ouro, porque sabem que o que trazemos de volta em motivação, devoção e doenças infecto contagiosas, quase sempre vale o investimento.

Porque no fundo, no fundo, não é de um prato ou de um anúncio que estamos a falar. É de comunicação, é o futuro, as tendências da nossa industria. Não é um jantar, um prato, uma ideia, ela premiada pelo gosto do público ou não. Estamos a falar de gastronomia como um todo. Como disciplina do pensamento cultural e social. Não mete estômago, ou digestão, tal como Cannes não tem a ver com os anúncios que vemos nas revistas. 

Por isso, imagino a enorme decepção que pode ter sido o 10 Fest para aqueles que pensavam que era para comer. Não passaram da unidimensionalidade. Da mesma forma que quando convidamos um cliente para ir a Cannes. Não percebe um caralho do que está a acontecer porque pensa que foi para ver anúncios, putas e coca.

Para mim, foi o oposto. Fico na dúvida se a média de bons jantares não foi superior no primeiro ano. Aimé e Baena muito lá em cima. Este ano, só o Vítor Matos tocou as notas mais elevadas.

Mesmo assim, o que é que isso interessa?

Isso pouco ou nada tem a ver com o 10 Fest, que é quase por si uma entidade orgânica ao segundo ano de existência. Vibrante e contagiante.
10 Fest é o nome que podemos dar à nossa paixão por gastronomia e culinária.
O 10 Fest fez pela cozinha lá de casa o que Cannes fez à minha carreira de publicitário. Por isso, sempre desejoso pela próxima edição.
No entanto, creio que a organização deve rever um ponto a que muito me habituei em Cannes e que tem a ver com a ausência de putas e vinho verde. 
O Paulo Pacheco disse-me que num dos dias foi servido vinho verde. Mas eu não estava lá, por isso não conta. E putas...essas nem ver.








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