Eu e o Miguel Esteves Cardoso temos muita coisa em comum. Escrever bem não é uma delas.


Fiz anos no outro dia. 
Sou particularmente avesso a ofertas. Principalmente porque para mim é sul da Europa a mais. Nunca sei muito bem o que pretende uma pessoa que me dá uma prenda. Só sei que no mínimo também quererá uma prenda, algures no tempo e no espaço. E se for só isso, já é bom.
Mas no outro dia creio que foram longe demais. Ofereceram-me uma porcaria de um livro chamado em Portugal não se come mal, do Miguel Esteves Cardoso.
Bom, vamos por partes. Que me ofereçam uma merda qualquer que não serve para nada e que aparece mais tarde nas rifas das festas do Senhor da Pedra é uma coisa. É inócuo.
Custa, mais coisa, menos coisa, um sorriso amarelo. O meu e o do tipo que a ganhar nas rifas. É uma campanha viral de sorrisos amarelos, não mais.
Já o raio daquele livro incomoda. Está ali, a olhar para mim, a desafiar-me, como que a dizer: rapaz, este é o livro que nunca quiseste ler.






Atente-se que não sou o maior fã do Miguel, talvez já tenha dado para perceber. E até sei explicar porquê: não lhe consigo ver traços de autor. 
Escrever umas crónicas bem dispostas, que juntas somam no máximo 3 páginas de racional é pouco para um autor. Mesmo que sejam um volume muito grande de 3 páginas. Por exemplo, 300 páginas de 3 em 3. 
Convenhamos, é nessa base que todo o escritor de vão de escada escreve um livro, sejam eles contos, histórias, crónicas, lendas, eu sei lá, são tantos os géneros mini autoriais.
Logo, o Miguel não é um Saramago, um Lobo Antunes, um Miguel Torga, um Vergílio Ferreira e muito menos Cardoso Pires será. É só Cardoso. Como tal, nesse panteão sagrado de autores portugueses ele não entra, e creio que jamais entrará. O Miguel é, como eu, um escritor de 3 em 3 páginas.  
Porém este é o parágrafo que nos separa e coloca cada macaco no seu galho. É que esse filho da puta (palavra do Verão neste blog) escreve bem como o caralho e eu não. É isto que me irrita no Miguel Esteves Cardoso. 
O Ferrari pode só sair da garagem durante 3 páginas, mas filha mãe, o Ferrari é lindo. É de tirar o ar. Uma cabeça oleada, fresca, inteligente, pertinente e que vai dos 0 aos 100 raciocínios enquanto eu tenho apenas tempo para me recordar do meu nome.
Mas o pior ainda é o facto de ele ter escrito sobre comida, o que me torna num ainda pior escritor de 3 em 3 páginas.
Olhar para um post meu e olhar para uma crónica do Miguel Esteves Cardoso sobre comida é um exercício revoltante. Dá-me náuseas. Dá-me vontade de fechar este blog e dizer: 
- Percebi a mensagem ó tu que me ofereceste este livro.
O Miguel não só é mais inteligente, escreve melhor e tem colesterol suficiente para que revejam nele um tipo que escreve sobre comida. Eu nem inteligência, nem saber escrever, nem colesterol. Sou uma espécie de sucedâneo. Mau como qualquer sucedâneo.
A vergonha é o sentimento dominante. Mas também fico com muita pena, mesmo muita pena de quem perde o seu tempo a ler esta trampa de blog.

A sério, se gostam mesmo de ler crónicas gastronómicas comprem o livro do Miguel, ou leiam um blog de jeito. Sei lá, qualquer coisa é melhor que isto.

Comentários

  1. Este é bom. Deixa-te disso.

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  2. Pois olha, eu estou doidinha com este sucedâneo, cada Cardoso no seu galho.

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  3. Obrigado Ana. Estive num período sabático, daí só ter visto agora. Eu também gostava muito daqueles chocolates que os ciganos vendiam à porta do metro. ;)

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